Chamem-me pelos meus verdadeiros nomes.
Não digam que parto amanhã
Porque hoje ainda estou chegando.
Olhe bem, a cada instante estou chegando
Para vir a ser botão de flor em ramo de primavera,
Para ser passarinho de asas frágeis,
Aprendendo a cantar em meu novo ninho.
Para ser lagarta na corola da flor,
Para ser gema oculta na pedra.
Estou ainda chegando para rir e chorar,
Para sentir medo e esperança.
O ritmo do meu coração é o nascimento e morte
De tudo o que vive.
Sou a libélula em metamorfose
Em vôo sobre as águas do rio,
E sou pássaro que se lança ao ar para engolir a libélula.
Sou rã que nada descuidada
Nas águas claras da lagoa, e cobra que em silêncio se alimenta da rã.
Sou a criança em Uganda, só pele e osso,
Minhas pernas como gravetos.
E sou o traficante que vende armas para Uganda.
Sou a jovem púbere
Que escapa em uma balsa,
E que, violentada por um pirata, lança-se ao mar.
Mas sou o pirata ainda incapaz de sentir e de amar.
Minha alegria é como a cálida primavera
Que faz florescer toda a Terra.
Minha dor é como um rio de lágrimas,
Tão vasto que enche os quatro oceanos.
Chamem-me pelos meus verdadeiros nomes,
Para que eu possa despertar e enfim escancarar
Em meu coração as portas da compaixão.
Este poema está no livro “Call me by my true names: the collected poems of Thich Nhat Hanh”.
Tradução: Leonardo Dobbin.
Crédito: foto de autor desconhecido.
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