top of page

Chamem-me pelos meus verdadeiros nomes

Mônica Ribeiro Neves

Atualizado: 7 de jun. de 2022




Chamem-me pelos meus verdadeiros nomes.

Não digam que parto amanhã

Porque hoje ainda estou chegando.


Olhe bem, a cada instante estou chegando

Para vir a ser botão de flor em ramo de primavera,

Para ser passarinho de asas frágeis,

Aprendendo a cantar em meu novo ninho.

Para ser lagarta na corola da flor,

Para ser gema oculta na pedra.


Estou ainda chegando para rir e chorar,

Para sentir medo e esperança.

O ritmo do meu coração é o nascimento e morte

De tudo o que vive.

Sou a libélula em metamorfose

Em vôo sobre as águas do rio,

E sou pássaro que se lança ao ar para engolir a libélula.


Sou rã que nada descuidada

Nas águas claras da lagoa, e cobra que em silêncio se alimenta da rã.

Sou a criança em Uganda, só pele e osso,

Minhas pernas como gravetos.

E sou o traficante que vende armas para Uganda.

Sou a jovem púbere

Que escapa em uma balsa,

E que, violentada por um pirata, lança-se ao mar.


Mas sou o pirata ainda incapaz de sentir e de amar.

Minha alegria é como a cálida primavera

Que faz florescer toda a Terra.

Minha dor é como um rio de lágrimas,

Tão vasto que enche os quatro oceanos.

Chamem-me pelos meus verdadeiros nomes,

Para que eu possa despertar e enfim escancarar

Em meu coração as portas da compaixão.




Este poema está no livro “Call me by my true names: the collected poems of Thich Nhat Hanh”.

Tradução: Leonardo Dobbin.


Crédito: foto de autor desconhecido.




Comments


                                                                                        QUE TODOS OS SERES SEJAM FELIZES                                                                                       



Créditos do blog:
Xilografias de J Borges
Fotos da Reserva Mãe do Ouro são do fotógrafo André Fogatti.
Desenvolvimento do Blog e Redes Sociais: Maíra Alonso
Revisão dos textos: Cecília Leonor Brescianini

 

© 2022 por Semeadura. Feito por Maíra Alonso

bottom of page